Precisamos mudar a forma que pensamos uma área de talentos

Minha primeira viagem internacional, primeiro evento desse porte. Há alguns dias tive a oportunidade de representar a Movile no Talent Connect, evento global do Linkedin, que reuniu profissionais de RH do mundo inteiro para falar sobre diversos temas relacionados a talentos – sim, não falamos apenas de recrutamento (como eu achava que seria) e sim da experiência toda de um talento na empresa. Participei de discussões sobre employer branding, posicionamento do RH, análise de dados, processo de seleção, diversidade e treinamento. Mais de 47 países, mais de 4.000 pessoas e diversos idiomas com discussões profundas em torno do tema do evento: “from insights that impact“.

Antes do evento dediquei um tempo para refletir sobre o tema e estruturar minhas expectativas, acreditava que, com isso, conseguiria aproveitar mais o momento e o conteúdo que seria compartilhado. Queria ter contato com cases de employer branding, entender como empresas do mundo inteiro trabalhavam o tema, ser inspirado por ideias de novas etapas para um processo seletivo eficiente e ouvir como todos têm trabalhado um tema super em alta, o tal people analytics. Mal sabia eu, minha expectativas estavam totalmente erradas…

Entre todas as anotações e materiais do evento, tentei, em alguns tópicos, destacar, a seguir, os principais aprendizados dessa experiência.

1) Atração de talento e recrutamento é um tema prioritário e difícil para todo mundo. Da Netflix a uma startup que acabou de surgir na Irlanda, todos passam pelo desafio de encontrar as pessoas certas para continuar crescendo e suportar as necessidades do negócio. Não estamos falando das melhores pessoas, ficou claro que não existe um perfil mágico, estamos falando das pessoas certas para cada empresa, contexto e momento.

2) Estamos na era do RH. Não quero soar clichê, mas para mim ficou claro que estamos no melhor momento quando se fala de uma área de recursos humanos. Hoje todo tema relacionado a pessoas é a principal pauta de grandes empresas e executivos, toda e qualquer discussão e/ou estratégia de negócio, no final do dia, cairá nesse assunto. Assim sendo, é mais do que necessário que consigamos entender (e rápido!) como criar estrutura e estratégia eficientes, que ainda seja escalável, entregue resultados e suporte o negócio, tendo dados e informações que ajudem a influenciar toda e qualquer decisão. E quando eu falo decisão não me restrinjo aos temas de RH, estou falando de escolhas de negócio, como abrir ou não uma vertical, lançar ou não determinado produto, e até mesmo se investiremos ou não no tema X ou Y.

“Recrutamento é a linha de frente do negócio, nós trazemos os talentos que garantem ou não o crescimento que o negócio precisa e planeja.” (Jeff Weiner, CEO do Linkedin)

3) Employer branding is about human storytelling and needs to be genuine. Essa foi uma frase do Amir da Netflix e ficou marcada por estar muito ligado a algo que eu penso e tento aplicar na Movile. Tudo precisa ser feito “de pessoas e para pessoas”, uma estratégia de marca empregadora precisa demonstrar a essência da organização de maneira autêntica, apenas dessa forma conseguiremos gerar uma conexão com as pessoas. Diferente do que muitas vezes é pregado em alguns discursos e com a criação de metas, como número de candidatos por vaga e CVs recebidos, precisamos encontrar e encantar as pessoas certas, aquelas que compartilham de uma conexão autêntica com o negócio, seus objetivos e valores. A prioridade (ou não) dada a esse tema é diretamente proporcional ao “sofrimento” que seu negócio terá em um momento de alto crescimento, por exemplo.

4) Cada vez mais nos deparamos com a falta de pessoas preparadas para algumas posições, nossas necessidades estão mudando exponencialmente e o mercado não necessariamente tem acompanhado na mesma velocidade. Nosso desafio, como área de talentos, não será apenas encontrar as pessoas certa, como falamos anteriormente, mas também pensar em como contribuir com as comunidades para formar e capacitar as pessoas, criando um ciclo sustentável para o negócio e para as pessoas que estão por perto, que se desenvolverão e estarão mais preparadas. Um ótimo exemplo que temos feito por aqui é o Movile Next, nosso curso que capacita gratuitamente desenvolvedores e desenvolvedoras do mercado.

5) O RH precisa ser estratégico, uma frase repetida à exaustão. Mas como fazer isso? Uma das possibilidades, e a que mais acredito, é a utilização de dados. Ter dados sobre o cenário atual da sua estratégia e contexto de mercado é mais do que necessário para que possamos fazer essa mudança que, com certeza não é fácil, mas é necessária. Qual o retorno da sua estratégia de employer branding? Quanto traz de economia para o negócio? Qual o impacto (em tempo e dinheiro) de ter alguém focado nisso? Tudo isso é mensurável e sem essas informações não tem como justificar a relevância do tema.

6) Durante o evento ficou muito claro que uma área de talent que tem a postura “take order“, ou seja, recebe pedidos e sai loucamente executando, não é sustentável para o time, para a empresa e nem para o mercado. Passou da hora de assumirmos a posição de “talent advisor” frente ao negócio, precisamos ter voz ativa sobre o que faz sentido e o que não faz, criando verdadeiraparceria com os gestores, entendendo a real dor e não só um sintoma que se manifesta. Não faz sentido ficarmos parado esperando “o negócio” mandar e falar o que precisa, temos que sentar na mesa e decidir juntos.

Diferente das expectativas que criei no pré evento, não falamos de processos, cases, estratégias ou de alguma fórmula mágica. A principal mudança que precisamos passar é na forma que pensamos uma área de talentos, é o que vai nos ajudar a criar práticas diferenciadas, inovações de processo e, como consequência, melhores resultados. Falamos sobre olhar para a estratégia de recrutamento e desenvolvimento como o principal motor de aceleração do negócio, e não como uma das peças complementares. A grande diferença, ao meu ver, entre o que fazemos aqui no Brasil e o que falamos no evento está na forma de pensar a área e não exatamente na forma de executar qualquer processo.

Existem outros diversos destaques que poderiam estar aqui e que me impactaram muito durante o evento. O que ficou muito claro, para fechar esse texto, é que nós, como área de talentos, temos uma oportunidade imensa de criar coisas grandes, que impactem muitas vidas e que nos posicionem na linha de frente de qualquer mercado e negócio. Precisamos pensar diferente para então fazer algo diferente. Como reforçou o CEO do LinkedIn, Jeff Weiner, “It’s not just about what, but also about how”

Artigo por Matheus Fonseca